segunda-feira, 28 de março de 2011

O Encontro Marcado (Fernando Sabino)

Enquanto avanço a passos lentos (por culpa do trabalho, não do livro) em Pais e Filhos, de Ivan Turguêniev, vou escrevendo aqui sobre alguns dos meus livros favoritos.

O Encontro Marcado, de Fernando Sabino, é desses livros que me parece diferente a cada vez que elio. Até hoje foram três leituras e cada uma com um sabor e um foco diferentes. É como se a obra fosse reescrita para cada etapa da sua vida e feita para ser lida pelo menos uma vez por década.

O "romance de uma geração" é mais do que isso. Fala de amizade, de desencontros, de desesperança e de redescoberta, faz rir e se emocionar. É universal e atemporal.

Em agosto faço 40 anos e ganho o direito de ler novamente a obra. A primeira foi aos 15, a segunda lá pelos 23, a terceira por perto dos 33 e a próxima não demora.

E você, já leu? Então leia ou releia. Vale muito.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Os Miseráveis (Victor Hugo)

Porra, Maurilo, tem livro mais manjado do que Os Miseráveis? Já virou até peça da Broadway, escreve sobre coisa diferente, caramba.

Sim, eu sei que o parágrafo acima pode muito bem refletir o que você pensa, mas sinceramente, eu não poderia me importar menos.

Antes de mais nada, Os Miseráveis é um dos melhores livros que já li e tem em Javert um dos personagens mais fascinantes de todos os tempos.

O livro conta a história de Jean Valjean e sua tentativa de reconstruir a vida após uma história de crimes e sua fuga das galés. Mesmo recuperado, Jean Valjean tem pela frente Javert e é aí que a história ganha em força.

Javert é daqueles personagens que fazem o leitor sentir ódio já nas primeiras linhas. Inflexível, determinado, obcecado pela "letra da lei", Javert é simplesmente formidável em sua busca por desmascarar Jean Valjean ignorando todo e qualquer atenuante. Um inimigo que não apresenta outro aspecto humano que não seja a fidelidade ao seu juramento e à sua crença.

O embate entre Jean Valjean e Javert, além dos fantasmas do primeiro, circundam ainda a história da jovem Cosette, "filha" de Valjean.

É sem sombra de dúvidas um livro obrigatório e, se você ainda não leu, pode acreditar que nenhuma musical grandioso da Broadway pode substituir essa experiência.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Talvez uma história de amor (Martin Page)

Acebei de ler não faz meia hora o Talvez uma história de amor. Eu descobri Martin Page através de Como me tornei estúpido e depois li também A gente se acostuma com o fim do mundo.

Como me tornei estúpido é sensacional e vale a pena ser lido e relido quantas vezes forem necessárias, mas o Talvez uma história de amor não fica nada atrás. É daqueles livros que se fosse publicado frase a frase no Facebook ganharia centenas de "curti" meus.

A premissa do livro já prende a atenção: o publicitário Virgile recebe um recado de Clara em sua secretária eletrônica terminando a relação com ele. O problema é que ele nunca teve qualquer tipo de relacionamento com Clara.

Daí em diante a história se segue com leveza, bom humor e observações inteligentes sobre as pessoas e o mundo.

É um livro muitíssimo bacana, delicioso de ler e surpreendente. E se você é publicitário, vai achar bem interessantes as opiniões do autor sobre a nossa profissão.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Três Contos (Gustave Flaubert)

Eu nunca tinha lido nada de Flaubert, então escolhi este livro da Cosac Naify para começar.

Como está no próprio título são três contos, mas o que o título não diz é que essa é uma aula de escrita. Como escreve bem o filho da mãe. São três histórias completamente diferentes, em épocas diferentes e em cenários diferentes, mas que oferecem o mesmo prazer na hora de ler.

A escolha dos adjetivos, a duração das frases, até o ritmo da pontuação dão um sabor especial ao texto.

O primeiro conto é "Um Coração Simples", uma história cotidiana, lenta, delicada onde se diz muito sobre o pouco que acontece. Uma puta reflexão sobre a vida que passa e nosso papel fútil de meros espectadores.

"A Lenda de São Julião Hospitaleiro" é algo completamente diverso. Visceral, bem construída, deixa a gente preso até o final surpreendente. A descrição dos massacres é algo de tirar o fôlego e a história em si é daquelas que a gente guarda por um bom tempo.

Para fechar, "Herodíade" conta a história de São João Batista e Salomé de uma maneira sedutora e com um forte viés político.

Meu veredito técnico sobre esta obra de Flaubert não poderia ser mais sucinto: vai escrever bem assim lá na putaqueopariu.

É isso.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A Ilha Sob o Mar (Isabel Allende)

Vamos começar dizendo que eu gostei muito de A Ilha Sob o Mar, da Isabel Allende. A história da escravidão no Haiti faz a gente entender porque aquele país é a zona que é até hoje e nunca dá muita esperança de que vá melhorar.

O livro tem aquela estrutura de contar uma história pareada com a vida de uma pessoa ou família e nesse sentido tem algo de García Márquez. A visão sobre os eventos ganha humanidade, proximidade e, assim, a leitura flui melhor. O resultado é bacana.

O livro é bom, vale ler, mas talvez até por essa estrutura que eu mencionei, me deu a sensação de algo já visto.

De qualquer forma, é um livro que pede tempo para ser lido e, se não tira a gente do sério de tão bom, serve como uma bela diversão.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Almas Mortas (Nikolai Gógol)

Almas Mortas é um livro sensacional, mesmo não tendo final.

Até onde eu sei, Gógol queimou todos os originais da segunda parte que concluiria a obra e deixou uma narrativa interrompida, o que faz a gente imaginar caminhos e desfechos para o protagonista Tchítchicov.

Até a última linha impressa, Tchítchicov nos envolve em seu plano de comprar "almas mortas", ou seja, adquirir os servos falecidos de proprietários rurais, antes que estes fossem declarados como mortos aos recenseadores.

A ideia era mostrar-se como grande proprietário de almas para obter vantagens, prestígio e, é claro, dinheiro.

Na minha cabeça, Tchítchicov conseguiu sucesso com seu plano e, assim que foi descoberto, levou toda a sua riqueza para Viena, onde continuo aplicando pequenos golpes na elite local. Mas eu não sou Gógol e nem Púchkin, que sugeriu a ele o argumento que deu origem ao livro, e tenho certeza de que a solução deles seria muitíssimo melhor do que esta.

De qualquer forma, bom mesmo é ler Almas Mortas, se embrenhar na corrupção e na decadência da sociedade rural russa da época e depois imaginar os próprios finais quantas vezes quiser.