quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Peste (Albert Camus)

O Estrangeiro costuma ser o livro-referência quando se pensa em Camus e é, realmente, uma bela obra. Só que por alguma questão que não sei explicar, dos três livros que li do autor, A Peste foi o que mais mexeu comigo (A Queda é apenas razoável).

A Peste conta uma história de resistência diante do inevitável, mas não uma história sobre o triunfo da vontade ou do heroísmo que vence as adversidades. Para mim, é o retrato da nossa luta cega contra o inevitável e de como a sorte abençoa alguns e ignora outros.

O livro fala da união de pessoas comuns contra o horror, da coisas que simplesmente acontecem e mudam nossos planos, das decisões que tomamos e como elas podem não afetar o grande esquema das coisas, mas alteram os pequenos rumos, as trajetórias individuais.

É um contraponto entre as grandes catástrofes e os pequenos dramas, humano até doer e doído até não poder mais. Tudo isso coroado por um final dos mais bacanas.

A Peste é daqueles livros que não se contenta em ser apenas mais uma leitura.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Coisas Frágeis 1 e 2 (Neil Gaiman)

Antes de começar, eu gostaria de dizer que não consigo imaginar um único motivo para a Conrad ter lançado Coisas Frágeis em dois volumes que não seja ganhar mais dinheiro. Péssima ideia.

Bom, mas agora sobre o livro em si. Sou fanático por Neil Gaiman e considero The Graveyard Book, Deuses Americanos, Stardust e Neverwhere, obras simplesmente fantásticas.

No caso de Coisas Frágeis, o resultado é irregular. Temos material excelente, surpreendente e único, como costuma ser o que Gaiman escreve, dividindo espaço com textos não tão inspirados assim. E não adianta achar que o volume 1 é que é o ótimo ou que bão mesmo é o 2. Está tudo misturado.

Sendo assim, vale a leitura. Bastante, aliás. Mas se você ainda não conhece Neil Gaiman, comece por outra obra. Vai fazer muita diferença.

sábado, 16 de abril de 2011

As intermitências da morte (José Saramago)

Outro dia meu colega de trabalho Digão Corrêa me perguntou se eu não tinha vontade de escrever textos mais longos para adultos. Respondi que texto para adultos, sim. Mais longos, não. Meu falecido livro de contos "Incultos", é todo composto de histórias para adultos, mas nenhuma com mais de duas ou três laudas.

O livro "As intermitências da morte" reforça em mim a certeza de que não sou um escritor de romances ou novelas. O fato é que se mesmo por um milagre eu tivesse sido abençoado com um argumento tão bacana como é o do livro, em que a morte fica oito meses sem matar e depois volta ao trabalho normalmente (bom, nem tão normalmente assim), eu dificilmente cobriria 207 páginas com o assunto.

Para o bem ou para o mal, Saramago detalha sentimentos, descreve pequenos casos que parecem pouco importantes para a história com grande cuidado, se detém em personagens apenas passageiros e assim enriquece toda a obra que alguém como eu completaria em 6 ou 8 páginas.

"As intermitências da morte" não é o melhor livro que li de Saramago, mas nem por isso deixa de ser excelente. É cheio de um humor negro inteligente, de uma crítica mordaz e de uma mudança de rumos que leva a um desfecho muito bacana.

É livro escrito por quem gosta, tem talento e abusa do dom de escrever bem. E como não tenho tudo isso (ou quase nada disso), me resta ler e gostar.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Os Espiões (Luis Fernando Veríssimo)

Fazia um bom tempo que eu não lia algo do LFV, por isso foi uma delícia ler Os Espiões. Tá certo que eu prefiro o Veríssimo nas histórias curtinhas (crônicas?), mais ainda assim, dá pra rir bastante e pra perceber que o cara é realmente um fodão.

A história prende do início ao fim e confesso que imaginei uns 30 finais e nenhum bateu com o correto.

O ritmo é excelente, as piadas funcionam muito e os personagens são muito bem construídos, principalmente o Professor Fortuna.

É humor que faz cócegas no cérebro. Leia.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cotoco (John van de Ruit)

Eu até esqueci o ódio pelo Santander enquanto lia Cotoco, do sul africano John van de Ruit. Li como todo livro deveria ser lido, imerso, interessado, com ritmo e ri alto, às gargalhadas, por diversas vezes. Chegou ao ponto da sophia perguntar o que eu estava "vendo".

Cotoco é o livro perfeito para aqueles que ainda são 70% adolescentes como eu. Divertido, cruel e emocionante na medida certa, mostra que adolescentes são adolescentes na África do Sul ou em Ipatinga.

Tenho lá minhas dúvidas se mulheres gostariam tanto do livro, até porque elas tendem a ser menos escrotas do que nós homens aos 14 anos de idade, mas recomendo muito a todos que gostem de um humor juvenil, escrachado e que evoca as mais agridoces memórias.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pais e Filhos (Ivan Turguêniev)

Não li Pais e Filhos como ele deve ser lido. O livro de Turguêniev pede atenção, pede ritmo, pede saborear as descrições e eu só pude tratá-lo assim nas últimas 70 páginas. Antes, li picado, de duas em duas páginas com espaços longos entre elas.

O estilo da obra é clássico, a linguagem é rebuscada e a história é sensível, embora fale de temas como niilismo que me parecem extremamente datados. Bazárov, no entanto, é um personagem que me pareceu mais xexelento do que interessante.

Resumindo, não acho que eu consiga formar a opinião que Pais e Filhos merece. Talvez seja um grande livro que não tenha recebido de mim a atenção adequada e por isso ficou com gosto de ter sido apenas bom.