sexta-feira, 30 de março de 2012

O Romancista Ingênuo e o Sentimental (Orhan Pamuk)

Eu compro livros de diversas maneiras: porque me indicaram, porque li sobre eles, porque são clássicos, porque são de algum autor que eu conheço, porque são de algum autor que eu quero conhecer, porque li uma crítica interessante, porque são lançamento, pelo tamanho e até mesmo pela capa.

É difícil eu entrar em uma livraria sabendo exatamente o que eu quero. Normalmente me deixo levar pela prateleiras e, vendo um livro, desencadeio uma sequência de pensamentos e sentimentos que me leva às minhas escolhas naquele momento.

Por exemplo, se quero um livro para uma viagem de três dias, prefiro algum autor conhecido e um livro curto. Se é para as férias, posso escolher vários volumes ou uma obra mais encorpada. A partir daí, é o espaço da livraria que me conduz.

Com "O Romancista Ingênuo e o Sentimental" foi assim. Nunca havia lido Orhan Pamuk, embora já tivesse ouvido falar dele e de seus livros. Passei por uma seção com várias de suas obras e fui imediatamente atraído pela capa de "O Romancista". Livro curto, autor que queria conhecer, título interessante, vamos nessa.

Resultado? Fui enganado. Não era um romance ou mesmo um conto, como supus, mas um livro que fala sobre a arte de ler e escrever romances. A opinião de um escritor sobre a manufatura da literatura e o olhar do leitor sobre ela.

Foi um feliz engano. Uma obra gostosa, feita para quem é apaixonado pelos livros, seja escrevendo ou lendo.

Um texto com base, com referências e bom de se ler, capaz de fazer com que a gente pense um pouco mais sobre tudo aquilo que faz de um livro que gostamos, um livro que gostamos.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Agora É Que São Elas (Paulo Leminski)

Confesso, "Agora é que são elas" é muito doido pra mim. Um material muito experimental, com abuso do nonsense e que só é realmente delicioso quando algumas frases ou parágrafos resvalam na poesia leminskiana.

Claro que ao ler o romance eu nunca pensei que fosse algo próximo da poesia do grande curitibano, mas realmente achei que faltou um ritmo melhor, uma linha que desse vontade de seguir.

Foi bom para conhecer esta outra faceta de Leminski e até mesmo para ler um tipo de prosa com a qual não estou acostumado, mas ficou abaixo do que eu esperava.

É como o omelete de ovo de águia com leite de iaque condensado que você comeu na sua última viagem ao Tibet: interessante para experimentar, mas uma vez basta.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Fala, amendoeira (Carlos Drummond de Andrade)

Como é bom ler as coisas de Drummond. Deixar-se levar por aquele leveza que encobre até a mais terrível das dores crônica após crônica.

Fazia muito tempo (tempo demais) que eu não lia Drummond e, após o "Fala, amendoeira", ficou a certeza de que isso não pode se repetir.

A poesia de um ovo de pato que se choca, um menino que brinca sozinha na rua - talvez abandonado pelo pai, os problemas com o abastecimento de água no Rio de Janeiro antigo, tudo se transforma em um pedaço mágico do tempo nas mãos de Drummond.

Acabei de ler e fiquei assim, bobo de ver como alguém que escreve tão bem consegue mudar nosso dia, nosso humor e nosso jeito de ver as coisas.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Homem Que Queria Ser Rei e outras histórias (Rudyard Kipling)

A Índia de quando eu era garoto vivia no meu imaginário como uma terra de aventuras, tigres e grandes selvas. Não era um lugar místico, mas um lugar selvagem e Kipling provavelmente é um dos grandes responsáveis por isso com seu Mogli e seu homem que queria ser rei.

Kipling está para a Índia como Joseph Conrad está para a África. E se Conrad cria climas mais intensos, Kipling é um contador de histórias superior.

Neste livro é quase possível sentir o calor, a estranheza do inglês em meio aquilo tudo e a história dos livros de escola sendo moldada pelo povo dominante.

Fora isso, cada pequeno texto é uma jóia, uma maravilha de detalhes, cores e narrativa que faz a gente se embrenhar no meio da selva com meninos-lobos, povos estranhos e a certeza de que obras assim ajuda a preservar o mundo como ele já foi e como deveria continuar sendo na nossa imaginação.

domingo, 11 de março de 2012

Submarino (Joe Dunthorne)

Acho que me enchi um pouco de livros juvenis (pelo menos por enquanto). Submarino é daqueles livros como Slam, do Nick Hornby: bacana demais se você estiver terminando o Ensino Médio e um pouco pior a cada ano depois disso.

Sabe aquele velho filão do menino que enfrenta dificuldades entre quem é e quem se espera que seja, que descobre o primeiro amor, que vive a perda da virgindade, a crise no relacionamento com os pais e um monte de outras crises que todo mundo com mais de 20 já teve ou leu sobre? Pois é.

E olha que eu ainda sou um daqueles caras que curtem obras juvenis, mas essa não me encantou. É bem escrito, tem ritmo, mas a temática realmente não é pra mim.

Agora, se você tem algum sobrinho que acabou de entrar na faculdade ou está prestes a fazer vestibular, esta é uma bela dica de presente, viu?

sexta-feira, 9 de março de 2012

As Pequenas Memórias (José Saramago)

Um livro gostosinho mesmo esse tal de As Pequenas Memórias. Não é uma puta obra como As Intermitências da Morte ou o Ensaio Sobre a Cegueira, mas é uma leitura rápida e leve.

É bacana ver o passeio por regiões de Portugal, pela memória afetiva e por um tempo que nunca conheci contados pela voz próxima e serena de Saramago.

Livro para se ler em um final de semana, de preferência em uma rede e sem televisão por perto.

Estava acostumado com um Saramago que escreve lautas refeições e acabei adorando esse pastelzinho de belém.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Loose Balls (Terry Pluto)

Se você gosta de basquete e tem mais de 40 anos provavelmente se lembra da ABA - American Basketball Association (não confundir com ABBA). Se você se interessou pelo esporte mais recentemente, vou te situar um pouco.

Sabe o arremesso de 3 pontos e o campeonato de enterradas? ABA.

A bola de basquete vermelha, branca e azul? ABA.

Julius "Dr. J" Erving, George "The Iceman" Gervin, Moses Malone, Maurice Lucas? ABA.

Denver Nuggets, Indiana Pacers, New Jersey Nets, San Antonio Spurs? ABA.

Wilt Chamberlain como técnico? Ok, isso também era a ABA.

Losse Balls é um livro para apaixonados por basquete como eu. Um livro sobre empresários loucos que queriam uma fusão com a NBA e criaram uma liga feita para durar 3 anos, mas que sobreviveu de 67 a 76 e trouxe grandes jogadores, um estilo de basquete de muita pontuação e liberdade e centenas de histórias inacreditáveis.

Ler Losse Balls é mergulhar em uma época em que basquete não dava dinheiro, em que jogadores faziam loucuras e em que estádios ficavam vazios.

Uma obra divertida, dinâmica e histórica que explica muita coisa sobre a NBA como conhecemos hoje.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Bartleby, o Escrivão (Herman Melville)

Quando a gente pensa em Herman Melville, pensa em Moby Dick. É a sua grande obra e isso não se discute. É o Quixote de Cervantes, Os Miseráveis de Victor Hugo.

Só que pra mim Moby Dick não é a melhor obra de Melville, embora eu tenha adorado o livro. Existe um outro livrinho para o qual a Cosac Naify fez uma edição primorosa que me deixou muito mais impressionado: Bartleby, o Escrivão.

A história de um homem com um emprego medíocre, uma vida medíocre e que tem a capacidade invejável de ignorar os fatos e as imposições à sua volta. Ouve o que quer ouvir e faz o que quer fazer, sempre com a diligência e a firmeza (mas não com a obediência) de um bom funcionário.

Assim como Ahab, em Moby Dick, Bartleby é um obstinado, mas sua luta é contra algo bem menos específico do que uma enorme baleia branca. É uma luta contra o mundo exterior, contra a realidade, contra tudo o que se interponha ao seu caminhar aparentemente sem objetivo.

Uma luta que Bartleby enfrenta com a calma, a indiferença e a clareza que só os loucos possuem.