sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Máquina de Fazer Espanhóis (Valter Hugo Mãe)

Senhoras e senhores, gostaria de começar dizendo que este foi um dos melhores livros que já li. Humano, poético, dolorido, divertido e bem escrito de um jeito que eu vou te contar.

Não se importe com o livro ser todo em caixa baixa, não separa diálogos e usar basicamente ponto final e quase nunca interrogações (nem mesmo nas perguntas). Isso são firulas. O que toca mesmo é o que está escrito.

Quase impossível acreditar que Valter Hugo Mãe, um angolano de 40 anos, escreveu tão maravilhosamente bem sobre a velhice em uma casa de repouso.

Personagens algo fantásticos e ao mesmo tempo absurdamente reais permeiam a história de "antónio silva" e seu luto pela morte da mulher e pelo abandono da família. Mais do que isso, a história fala de seu reencontro com a alegria, a descoberta do novo quando só deveria haver o fim.

Que puta livro! Acho difícil ler algo tão bom novemente em 2012. E olha que tenho lido coisas boas nos últimos tempos.

A Escalada (Anatoli Boukreev e Gary Weston DeWalt)

Eu fiquei simplesmente fascinado pelo livro No Ar Rarefeito, de Jon Krakauer. É literalmente uma obra que te deixa sem fôlego e que descreve a tragédia no Everest com paixão e com uma qualidade que torna impossível largar a leitura.

Por isso, quando me indicaram A Escalada, que seria uma nova versão da mesma história, não resisti e li.

Antes de mais nada, sobre a questão central do livro, que trata das atitudes do alpinista russo Anatoli Boukreev durante a expedição que resultou em um enorme drama e algumas mortes no Everest, me parece que os autores provaram o seu ponto.

Se eu tivesse que julgar Boukreev ele seria absolvido. Mais do que isso, o fato de Krakauer não admitir a versão do russo e simplesmente descartá-la me parece algo bastante mesquinho, embora ele tenha vivido a situação e eu não.

Infelizmente, esse é o ponto alto do livro: Boukreev não teve culpa. É quase um relato jornalístico, uma defesa de um réu e por isso o livro não chega sequer perto de No Ar Rarefeito.

Se tiver que escolher um deles, vá com Krakauer. Se puder, leia os dois. Mas bom mesmo seria que No Ar Rarefeito tivesse um adendo que incluísse pelo menos a carta em que Boukreev explica suas atitudes.

Só isso já bastaria e você poderia ficar com o melhor das duas obras em uma única publicação.

Romance Sem Palavras (Carlos Heitor Cony)

O carnaval foi tranquilo e me possibilitou a leitura de três livros. Vou falar sobre os três, mas queria começar pelo que menos agradou.

Não é que Romance Sem Palavras seja um livro ruim, mas é que ele começa bem, promete e não entrega.

É daqueles livros que não chega a desanimar quando estamos lendo, mas do qual dificilmente nos lembraremos em dois ou três anos.

A história de dois presos políticos que se encontram em uma cela nos tempos da ditadura brasileira e que têm um caminho comum unido pela dor, pela luta democrática e por uma mulher não decola.

As voltas ao passado e a constatação do que cada um se transformou com o tempo acabam sendo mais interessantes do que "a revelação" que deveria ser o auge da trama.

Uma leitura agradável, mas de maneira nenhuma indispensável.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Azul (Rubén Darío)

Sempre ouvi falar bem de Rubén Darío, mas pelo menos neste livro dele fica claro que não fomos feitos um para o outro.

Não é que eu não goste do que ele escreve, mas acho muito ruim "como" ele escreve. É parnasiano (é essa a palavra?) demais e tudo parece muito igual, muito repetido.

A exceção é o conto "O Fardo", este sim um belo texto com uma história emocionante e uma narrativa mais fluida.

De qualquer forma, é uma pena e pode muito bem ser culpa minha não ter sabido aproveitar essa edição ilimitada e numerada.

Quem sabe no futuro eu leia de novo e goste?

Fernando Sabino Na Sala de Aula (Fernando Sabino)

Comprei esse livrinho com algumas crônicas de Fernando Sabino para deixar para a minha Sophia.

A verdade é que tenho a obra completa dele em um volume gigante e ainda outros livros que considero especiais, mas esse tem a cara de quem começa a se interessar por literatura e, embora esteja cedo pra minha pequena, já fica lá de reserva.

Como tudo o que Sabino escreve, varia do humor à emoção com facilidade, sempre com aquela delícia de se ler com leveza.

Tomara que Sophia goste dele tanto quanto eu gosto de ler e reler sempre.

Nova York: A Vida Na Grande Cidade (Will Eisner)

Will Eisner é daqueles caras que surpreendem a gente em tudo o que faz. Nessa homenagem em quadrinhos à cidade de NY, ele esbanja de histórias duras, humanas e às vezes silenciosas para mostrar a dureza e a vida dos espaços urbanos.

As ilustrações são maravilhosas, os personagens são verdadeiros e o que fica é um retrato de que os pequenos dramas, mesmo os mais tocantes, passam.

Enquanto isso, a cidade permanece lá, palco e atriz de algo maior que a gente finge não ver.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Desonra (J. M. Coetzee)

Desonra é um livro que se lê com raiva. Raiva dos erros idiotas, raiva das injustiças, raivas das coisas como são e como nem sempre deveriam ser.

Um professor que cai em desgraça por uma paixão, sua recusa em demonstrar arrependimento (não bastam as desculpas?), sua obra que vai a lugar nenhum.

Desonra é um livro que não se lê impunemente. É um texto que choca, que revolta e que ao mesmo tempo não acusa e nem condena. Todos são inocentes, todos vivem com seus medos e a vida é assim mesmo.

Um livro duro, mas que vale muito a pena ler.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Steve Jobs (Walter Isaacson)

Difícil encontrar uma biografia que seja excelente literatura. São normalmente obras que te interessam mais ou menos de acordo com o personagem e não por conterem uma grande história.

Uma exceção é a autobiografia de Steve Martin Born Standing Up que me fez rir e emocionar embora eu curta Steve Martin, mas não possa me declarar um fã.

A biografia de Steve Jobs não me emocionou, nem se mostrou uma obra indispensável, mas detalha alguns traços da personalidade e do caminho de Jobs que fizeram dele o grande homem de visão e de negócios que ele foi.

Fica mais fácil entender sua paixão por produtos surpreendentes, seu prazer em revolucionar as coisas e seu envolvimento doentio com tudo o que fazia.

Infelizmente não consigo me identificar com Steve Jobs. Não consigo imaginar que suas relações pessoais realmente precisassem ser tão cruéis com a simples justificativa de que "eu sou assim".

Se a receita para ser rico e fazer sucesso é seguir exatamente o que Jobs fez, morrerei pobre, mas sem dúvidas há também no livro duas ou três lições sobre paixão, confiança e ousadia que seriam úteis a quase todo mundo.