terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Estaleiro (Juan Carlos Onetti)



Alguns escritores fazem parecer que você conseguiria escrever como eles. Hemingway e Sabino, por exemplo, sempre dão a entender que, se um dia você quisesse mesmo, poderia escrever algum daqueles contos.

Claro que é bobagem e que o segredo do talento deles está justamente nessa falsa sensação de algo comum.

Já outros autores não dão essa canja. Ao ler Safran-Foer e Borges, por exemplo, você não tem a mínima esperança de escrever algo daquele nível.

Onetti faz parte do segundo grupo. O autor joga seu manto cinza-azulado sobre tudo o que cria e tudo é triste e penoso. A escrita é detalhada, poética, profunda e cada parágrafo faz com que você também ganhe os tons da obra.

O Estaleiro é meu terceiro ou quarto livro de Onetti, mas dificilmente será o último. As relações que seguem cotidianas e rotineiras diante do imenso absurdo que todos fingem ignorar, os personagens marcados pela vida, desiludidos, tudo isso faz a gente se apaixonar pela obra.

Não é uma paixão de verão e nem um "lance" à primeira vista. É um sentimento que nasce da dor e da surpresa de se deparar com o pior do outro e entender que aquilo basta.

2 comentários:

  1. Onetti é fantástico, e pelo que tenho visto não há quem fique em cima do muro: ou se adora ou se odeia ele.

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  2. Verdade, Marques-Rodrigues, Onetti tem um estilo muito próprio e quase impossível de não tocar o leitor para o bem ou para o mal.

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