Baby's in Black - O quinto Beatle (Arne Bellstorf)

Os quadrinhos de Arne Bellstorf, em preto e branco, têm a sobriedade na dose certa para mostrar a história de amor entre o "quinto Beatle" Stuart Sutcliffe e a fotógrafa Astrid Kirchherr. Uma paixão curta como a vida do próprio Sutcliffe.

A narrativa é simples, as ilustrações são lindas e a história que eu já conhecia é contada de um jeito próximo, que faz a gente não querer abandonar o livro.

Nas entrelinhas as influências que os dois deixaram sobre a banda, dezenas de "e se" e todo o vazio de uma história que nunca chegou a ser completa.

Toda Poesia (Paulo Leminski)

Leminski é o rei do hai kai, da verdade (e da piada) profunda, da rima enxuta. Ontem fiquei lendo e depois relendo em voz alta pra quem quisesse ouvir esses versos às vezes sacanas, às vezes sublimes.

Um deleite ler essa Toda Poesia. Uma maravilha em doses homeopáticas.

Nêmesis (Philip Roth)

Que livraço. Gosto muito de Roth e achei esse Nêmesis uma belíssima análise da impotência humana diante dos absurdos. Lembra um pouco o maravilhoso "A Peste" de Camus, mas é talvez um pouco mais suave.

Um livro que mostra como tudo desaba diante do impensável e como toda escolha está errada quando não sabemos nos perdoar e que mostra como heroísmo e covardia podem ser apenas dois lados da mesma moeda.

Excelente pedida. Livraço!

A Mente Suja de Robert Crumb (Robert Crumb)

É uma coletânea muito bem feita dos quadrinhos mais sacanas e das taras mais explícitas e preconceituosas do velho tarado. Ele até meio que se desculpa no começo do livro, mas acho que nem precisava. Cada época é diferente da outra e o que hoje escandaliza era só um choquinho na época.

De qualquer forma, pra quem gosta da Crumb é um prato cheio, com ilustras primorosas e histórias cheias de fetiches e sacanagens em geral. Eu indico.

A Vida Secreta dos Grandes Autores (Robert Schnakenberg)

Imagine um Guia dos Curiosos sobre grandes escritores. Pois é exatamente o que esse livro é. Muitas curiosidades interessantes e algumas bobagenzinhas forçadas fazem dessa leitura uma boa experiência, mas que poderia ter sido melhor.

As ilustras do Allan Sieber são bem legais, mas a tradução que deixa a desejar, caindo muitas vezes no "pé-de-letrismo" e fazendo com que a gente perca a piada.

De qualquer forma, vale pelas curiosidades e pelo perfil de grandes escritores que, a gente já sabia ou desconfiava, dificilmente são muito normais.

Elvis e sua pélvis (Michael Cox)

O Thomás, amigo da Sophia e filho do Toninho e da Lu, me passou esse livro porque ele sabe eu gosto muito do Elvis. E é realmente um livro bem bacana para adolescentes que queiram descobrir um pouco mais sobre a biografia do Rei do Rock.

Fácil de ler, divertido e cheio de informações curiosas deu até vontade de ler / recomendar o resto da coleção "Mortos de Fama".

A Quinta-Coluna (Ernest Hemingway)

Antes de mais nada, é uma peça de teatro. Segundo, fala sobre um tema que Hemingway explorou muito, a guerra civil espanhola. Até aí, dois motivos que não me animavam muito a ler o livro.

Mas, comecei a ler e me empolguei com a história, embora não tenha achado a menor graça na personagem feminina. É a única peça de Hemingway, se não me engano, e é bem legal, mostrando como em outras ocasiões ele já fez, o lado humano e cínico da guerra fora das trincheiras.

Resumindo, não é a melhor coisa que ele já escreveu e nem a mais original, mas é beeeeem Hemingway pra quem gosta de Hemingway.

Os Filhos de Húrin (J. R. R. Tolkien)

Excelente surpresa esse livro do Tolkien. Eu realmente não tinha gostado de O Silmarillion, mas achei que aqui ele acertou a mão.

Uma história movimentada, com personagens centrais bem definidos e bem explorados e a dosagem certeira entre vitórias e derrotas, luz e sombras.

Se você gostou do Hobbit e do Senhor dos Anéis, tem grande chance de curtir esses filhos de Húrin também. Aliás, minha única observação é que o livro é quase todo sobre um filho só, Túrin. Eu mudaria o título pra "O Filho de Húrin e sua irmã" ou algo do gênero.

Pornopopéia (Reinaldo Moraes)

Pense em um cara capaz de se guiar sempre pela satisfação imediata e capaz de tomar todas as decisões opostas a de qualquer ser racional. Um cara que coloca o prazer instantâneo acima inclusive da própria vida. Pois bem, esse é Zeca, personagem principal de Pornopopéia.

O livro tem viagens com e sem drogas, tiradas engraçadíssimas, um estilo frenético e muita, muita, muita putaria. Na verdade, chega uma hora, lá pela página duzentos e pouco que a gente cansa da putaria e aí a leitura perde ritmo. Mas logo depois a história tem uma reviravolta e o livro segue excelente.

É uma obra de que nem todo mundo vai gostar, principalmente por causa do texto altamente pornô e mesmo das características do personagem principal, mas eu vou te falar que passei pelas 660 e algumas páginas sem querer parar (exceto no já mencionado trecho da suruba exagerada).

Se você está com vontade de ler algo divertidíssimo, muito bem escrito e com elevadíssimos teores de sacanagem, esse livro é pra você.

The Breaks of the Game (David Halberstam)

Mesmo que você adore basquete, você dificilmente irá torcer pelos Portland Trail Blazers (a não ser que você seja do Oregon e região). O último e único título deles aconteceu em 1977, mas esse livro foca na temporada de 1980. Ou seja, a princípio é um tema incrivelmente desinteressante.

Aliás, o livro poderia falar:
- do time de Portland que ganhou o título em 1977 com Bill Walton;
- dos grandes times da década de 90 com Clyde Drexler;
- da temporada de 1980, mas dedicando-se à chegada de Magic e Bird à NBA.

Sabe quais eram as estrelas do time do Portland em 1980? Maurice Lucas, que poucos devem conhecer e que foi trocado antes do final da temporada; Kermitt Washington, um bom jogador que ficou famoso por quase matar Rudy Tomjanovich com um soco na cara e o Dr. Jack Ramsay, técnico do time e depois comentarista da ESPN sobre basquete universitário.

Isso quer dizer que o livro é uma bosta, certo? Não, não, mil vezes não! É um livraço que mostra a mudança da NBA para uma liga verdadeiramente profissional (no melhor e no pior sentido), que fala de como os jogadores negros mudaram a relação com torcedores, patrocinadores e mesmo o jogo como um todo, que explora a relação frágil entre técnico e equipe, além de refletir sobre as peças e atitudes que constroem e destroem um time campeão. David Halberstam também passa rapidamente por Magic e Bird e por diversas outras questões.

Excelente leitura para quem gosta de basquete e até mesmo para quem curte o impacto dos anos 70 no esporte, na sociedade e na cultura americana.

Mãos de Cavalo (Daniel Galera)

Daniel Galera é outro autor que você já viu por aqui. Gosto muito do cara e nesse "Mãos de Cavalo" ele consegue transportar qualquer um de volta aos seus 15 anos onde tudo é imenso e intenso e eterno, mesmo que a gente saiba que vai acabar logo.

Mal comparando, é um Meninos da Rua Paulo de Porto Alegre, em uma história que fala sobre crescer e suas consequências. Sobre amizades que se perdem, sobre compromissos que assumimos, enfim, tudo o que faz parte do nosso processo de amadurecimento e envelhecimento.

Gostei muito mesmo do livro e recomendo demais.

Contos Completos (Virginia Woolf)

Muita coisa sublime, muita coisa que eu esqueci segundos depois. O saldo desse livro da Virginia Woolf, no entanto, é bastante positivo.

Por falar quase sempre de um local e de um tempo muito específicos, às vezes a gente se perde nas referências, mas é fácil ver algo de muito humano e universal nos contos. Se não é uma leitura rápida e leve, é um passeio calmo e longo por outra época.

Sobrevivente (Chuck Palahniuk)

Quem segue esse blog já deve ter sacado que eu leio muita coisa do Chick Palahniuk e sempre me impressiono com a "doidêra" dele. É realmente um cara que subverte tudo o que se espera de uma história, jogando com situações e personagens absurdos como em seu mais famoso livro "Clube da Luta".

No "Sobrevivente" a receita não muda. Gente insana vivendo coisas insanas e se envolvendo com mais gente insana até chegar ao limite. Aqui a história inclui uma religião suicida e seus raros sobreviventes, um deles que passa boa parte do tempo convencendo outros a cometerem suicídio.

Uma obra com o ritmo do Chuck, a loucura do Chuck, as reviravoltas do Chuck e que realmente deve agradar quem já gosta dos livros do Chuck como eu.

Depois das Seis (Edgard de Melo)

Para quem já é publicitário e para quem quer ser, o livro é uma delícia por contar as origens da propaganda mineira em uma linguagem fácil e boa de se ler.

Claro que falta mencionar muita gente na história mais recente da profissão e que muitos casos ficaram de fora, mas nem é o objetivo do livro, que fala do mercado como um todo e, mais especificamente, da ASA.

Um documento muito válido para quem, de alguma forma, faz parte da publicidade em Minas. Até porque o autor é também um dos grandes personagens dessa história.

Piteco - Ingá (Shiko)

Muito legal mais essa graphic novel com os personagens do Mauricio de Sousa. Dessa vez é Piteco (na verdade é a Tuga) a estrela da publicação e a história é simplesmente boa demais para interromper a leitura.

Uma obra linda que fala das relações entre grupos diferentes, entre pessoas de um mesmo grupo e, mais importante, entre uma pessoa e outra.

Recomendadíssimo.